domingo, 27 de fevereiro de 2011

Quando chovia.


Era bonito quando chovia.
Era mais bonito na verdade...
Quando chovia a água que vinha caindo lavava tudo que era demais.
Deixava a pele de fora, mostrando o que era mais bonito.
Não era o mais bonito de ver, assumo, era borrado
por vezes sem graça.
Podia não ser bonito de ver,
mas era bonito de sentir.
Sem capas, lavados...
Onde a imagem era um pequeno detalhe que a gente não levava em conta
E se levasse, notava, que por mais grosseira que fosse
era tão iluminada por dentro
e de tão lavado por fora parecia puro
Então... Era bonito também
Era tão bonito quando chovia, combinava com os seus olhos...
Quando chovia.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dislexia sentimental.


Não sei mais escrever. Dei de cara com isso quando peguei a folha do caderno e tentei riscar as palavras. Antes deslizavam no papel e quando via já não havia mais papel para escrever. Mas agora é o que me falta, não, não é o papel. As palavras. Eu sei que as palavras ainda existem. Muitas, por sinal. Agora não me obedecem numa ordem de raciocínio de modo que fiquem claras e seja um reflexo perfeito de um espelho limpo do que há por dentro.
Será que por estar em branco quer dizer que esteja vazio? Não quero ser vazia por dentro. Não há nada nem amor, nem rancor. Nem pieguice toda que podem vir junto com algum sentimento transbordante. Que seja! Não sei mais escrever. E quando penso num sentimento e uma forma de por no papel o que me sai é uma ordem louca e sem regras de palavras.
Amor se, horror, quer, louca, por dentro, de forma, e. Então, isso. Foi, calor. Tudo. Sentindo...
Ah!
(...)
Que agonia não saber escrever. Que agonia não saber o que sentir. É triste estar nula de sentimentos e ficar  olhando para uma folha branca esperando um risco , um traço de alguma coisa que já passou aqui.
Vou sair. Tomar doses de alguma coisa para suprir o que não se sente mais. Vou encher a cara de amor, ou de raiva mesmo. Vou chegar cambaleando e vomitar letra por letra até secar essa falsa fonte.  Mas não vai ser verdade. Não vai não.
Acho que aquela velha historia de por tudo e sentir até a última gota me deixaram assim. Esquecera de me avisar para preparar a reserva e uma hora começar tudo de novo. Fiquei com um vácuo, sem texto, sem amor, sem emprego.  
E agora, mas nem vontade de chorar? Sequei até as lágrimas? Não pode! Elas sempre saíram aos bocados. Acabou? Passou? Alguns diriam que eu fiquei curada daquele agravante da doença... Aquilo que costumam chamar de paixão.
Sinto uma estranheza. Não sei ser assim. Só sei viver intensamente transpirando sentimentos. Tanto que nem cabem em mim e tenho que por em palavras antes que eu exploda de vez. Ai sim, eu sei escrever muitas palavras formando uma teia sentimental. Ser assim, sem graça na maré mansa não á pra mim.
Vou reaprender a escrever e voltar a reaprender a viver sem alguma coisa que eu deixei no caminho e nem percebi.