Não sinto saudades dele. Dele eu posso matar a saudade com uma ligação ou uma visita rápida. A saudade dele é a de menos, é fácil, bem fácil de resolver.
A saudade que me mata, meu amigo, não é essa comum. A saudade que eu falo não tem cura. É uma saudade difícil que insiste em ficar.
Sinto saudade do clima daquele mês. Do cheiro das coisas, da forma das musicas. E o sentido que tudo tinha. A cor dos dias. Eu sei que os dias têm a mesma cor, uns cinzas, outros azuis, mas eram diferentes tinha alguma coisa a mais.
É difícil de explicar. Demorei muito para entender. Mas é mais ou menos isso que eu sinto. Só de ouvir alguma musica já bate uma saudade, nossa que parece que eu volto no tempo. Mas é só até acabar a musica.
Sabe... Também sinto falta de como as palavras eram ditas naquela época. Nossa, eram também diferentes. Tem dias que até parece que vão ser iguais, mas só parecem. Não são.
Demorei tempos, uns bons meses para entender o que acontece. Mas agora eu descobri. Na verdade eu venho descobrindo aos poucos. Já assumi, já passei por vários estágios. Agora o que mais parece é que estou numa daquelas fotos de porta retrato numa praia, despenteada e rindo, mas só. É uma das fases mais confortáveis, garanto.
É bem tranqüila, sem altos e baixos de confusões. Onde tudo fica claro. Tipo parte final do filme. Quando já se resolveram as coisas e estão preparando o final mais bonito e todo mundo com roupa nova e cheirosinho. Com direito a chá e torta de limão.
Sei que muitas vezes vou sentir falta ainda. Não sei até quando, porque pode ser pra todo o sempre. Pois mesmo que por pouco tempo, foi forte. Pra mim, pelo menos, foi. Talvez sinta falta pra sempre, afinal não haverá igual.
Podem ter melhores. Ou não. Mas pode haver outros. E será do seu modo, cada um. Por isso sempre vou lembrar. Mas se sempre vou sentir saudade assim? Não depende só de mim.
Mas te peço, aceita? Aceita que eu sinta saudade desse sentimento que já não existe mais? Ou até existe, mas só dentro de mim.
Deixa? Deixa eu sentir saudade assim?
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