sábado, 12 de junho de 2010

prisão perpétua.

Não sei se parece mais com um calo ou uma prisão perpétua, mas desde então ela se vê presa a isso sem ter para onde escapar. As roupas que vestiu; o filme que viu e até perfume que usou. Tudo por alguns simples e claros motivos. Por ela, por ele e para eles.
O que mais doía nela todo esse tempo não era fazer tudo, até mesmo porque ela realmente gostava de tudo que fazia, mas sim por não poder ou não o ter para poder enfim compartilhar como tanto sonhou de novo. Contar daquele filme que viu e que, embora todos achassem que fosse o melhor de todos os tempos ela dormiu na metade. Não se importava de ter visto sozinha ou com outras pessoas, ela gostava de saber que ele estaria lá – daquele jeito que só ela conhecia – para ouvi-la contar, rindo da tolice que foi, ter pensado que o filme pudera ser bom.
Ela não precisava de cem por cento, não queria tudo a toda hora, nem que virassem apenas uma pessoa (se bem que nas horas que se tornavam uma pessoa só eram inimaginavelmente boas). Ela só queria o que lhe cabia de direto do outro. Um pouco o suficiente. Saudável. Metade dela e a outra metade dele. Igual e simples. Na mesma dose.
Era sabido que o que ela queria não era nada de exorbitante. Sabia que era divertido e seguro, mas tinha medo de arriscar. Como jogo, tudo ou nada.
Ela tinha medo dos dois. Ter tudo significaria ter muito, ter muito dá trabalho. E nada... Ela não sabia se nada era pior do que tem.
Era um prazer e dor fazer tudo isso. Não era por obrigação, era natural. Talvez isso que fosse mais difícil. Se fosse forçado uma hora iria parar. Mas era como respirar, falar, comer ou andar. Saia mais naturalmente que algumas palavras até.
E daí dizia como calo, pois mesmo sabendo que ele existia ela sempre iria calçar aqueles sapatos – ou outros – e sempre iria doer. Mas era inevitável muitas vezes.
Ou talvez numa prisão, outras vezes, por não ter para onde escapar. E quando e se isso acontecia sempre havia um agente competente a trazê-la de volta. Creio que ela achava que era mais seguro lá dentro.
É notável... Era bem pouco que ela queria. Era um estado, uma situação, um nome, um homem, uma coisa um tempo... Tão pouco. Compartilhar a dois e não num monólogo imaginário sem contracenar com ninguém. Falando com paredes ou inventando diálogos inexistentes com figura imaginárias de pessoas reais.
Sentir um cheiro e compartilhar; uma lágrima e compartilhar; um sorriso e compartilhar; incontáveis dias e compartilhar; abraçar e compartilhar de um mesmo sentimento e bonito que surge, às vezes, de um carinho oferecido ao vento.
É tão pouco e compartilhar. Enquanto isso ela vai fazendo e vivendo, nessa coisa que podem chamar de prisão, mil coisas, a roupa nova, a musica e até esse texto na esperança de tê-lo compartilhado. Pois cada palavra foi pensada na imagem daquele rosto tão familiar lendo-as letra por letra e entendendo cada pedaço do sentimento que ficou por aqui como uma bolsa meio vazia com algumas lembranças no fundo e nos bolsos laterais.

2 comentários:

Alice M disse...

É aquela coisa, Tainá... "I've got bruises on my knees for you"
Gostei muito mesmo do blog, vou adicionar aos favoritos do meu.
Beijos!

Monique Malcher disse...

Ninguém consegue ter cem por cento do outro né? é demasiado chato e impossivél. Se chega nos cem por cento a pessoa se transforma em duzentos por cento porque o mundo, as coisas e principalmente as pessoas estão em mutação, mesmo que ela seja lenta.