quarta-feira, 13 de outubro de 2010

calada

Não ouço mais a minha voz. Faz uns três dias que permaneço calada. Calada da boca, por palavras sonoras, aquelas que por mais que julguemos úteis são mais inúteis que qualquer momento de silêncio. Pois bem, voltando ao meu silêncio... Não falo nada, mas nem percebo. Quando vejo, já não emito mais nenhum som. E todas as palavras que ouvia eram dos outros. No começo isso me irrita, incomoda e perturba.
Meu coração pausa, depois dispara. O corpo congela a minha cabeça dói. E quando percebo chove uma vida de vida na minha cabeça. E talvez compense a minha mudez com a quantidade de coisas que posso pensar e falar. E falo tanto que preciso respirar fundo, vez ou outra, para poder me entender.
Falo, falo e falo. Falo de tudo, de todos e talvez por todos. Assim como estou falando nesta hora. E já faz três dias que só falo aqui dentro. Não exponho, não compartilho. Gargalho sozinha das minhas próprias piadas que nem precisam ser engraçadas. Repreendo-me.
Aposto que quase saio do meu corpo algumas vezes. Talvez, imagino, seja isto que me cause aquelas sensações estranha. Então quando volto pro corpo ele leva um choque e volta a trabalhar. No meio dos outros pareço um boneco. Estou apenas enfeitando o lugar. Calada, com cara de pastel. Mal sabem os que olham (e por sua vez, não vêem) que lá dentro há mais vida e informações do que todas aquelas que eles estão falando boca pra fora.
Imagino que seja um pouco de egoísmo da minha parte não querer compartilhar o que é falado dentro de mim. Mas acho que não. Não é por falta de querer. Eu apenas não consigo falar todas as palavras que são ditas por dentro. Por algum motivo, não deve valer a pena.
Não vou contrariar continuarei, aqui, nessa conversa afônica e egoísta.

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