sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

atravessando a praça


Têm várias pequenas coisas que me irritam diariamente. E, com o tempo, criei um boqueio com certas atividades diárias por causa destas coisas. Um delas é atravessar a Praça da República para ir até as lojas americanas, igreja, ou qualquer lugar que precise dessa travessia. Não por ter que passar pela praça, ou por ela ser feia, ou fedorenta ou preguiça mesmo. São outros motivos que me acometem.
Ainda há pouco voltava das Lojas Americanas, junto com minha madrinha e minha mãe, me borrando de medo de assalto, sequestro, bala perdida, “cadeirudo”, entre outros tantos problemas que podem aparecer na cidade. Mas, o que mais me deixava nervosa era ser abordada, gentilmente, por um hippie da praça. E, como havia falado no começo, tem pequenas coisas que me irritam diariamente. Ser abordada por artesãos e pedintes na rua é uma delas.
Pensei logo: “Puta merda, vão levar tudo o que é meu!” Mas não, ele só queria mostrar o trabalho dele. Tudo bem... Ele faz os brinquinhos de coquinho e pulseiras de palha pra vender e tudo mais. Mas eu não sou obrigada a gostar, compartilhar e ou dar uma ajudinha pra ele ligar para a mãe dele no Natal. Não fui sensível, eu sei.
O que mais me irrita nisso tudo é pensarem que eu sou obrigada a ajudar. Não, ninguém é. Acho que, pelo menos, devia ser respeitado o meu direito de ir e vir em qualquer lugar sem ser surpreendia por algum hippie no meio da praça. Porque, se eu passo andando quase no meio fio, com certeza, não é por vontade de arriscar a minha vida na vala. Talvez eu realmente não esteja querendo ver nenhuma peça que você fez com o material rustico da região.
O que me deixa mais puta da vida nessa historia é ter que me sentir culpada por não ter ajudado.  Talvez até ajudasse se a situação fosse outra. Afinal de contas quem em sã consciência vai abrir a bolsa no meio da rua, às 19h, sozinha com duas senhoras e sendo acuada por um pedido de um homem estranho? Eu sou doida, mas ainda não sou burra. 
Uma pergunta: todo mundo sai comprando uma peça em cada loja que vê pela frente só pra ajudar a família do dono? Pois é, também não faço isso. Compro sim, gasto e todas essas coisas de consumista. Mas, claro, só compro o que eu gosto. Então, da próxima vez que eu tiver que atravessar a praça, me deixe de fora dessa de brinquinhos.  Não é ajudar por espirito natalino. Até porque tem ajuda que é mais atrapalho que ajuda propriamente dita. Talvez eu seja uma grande filha da puta (desculpa mãe). Mas eu não acho que isso ajude de alguma forma. Só queria ter o direito de escolher o momento em que eu posso ajudar. Porque se sentir obrigada a ajudar todo mundo que passa na rua, eu fico me perguntando quando é que vão me ajudar também.

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