sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Como um palhaço.

Faço por vezes e como profissão as pessoas felizes. Mas de cortinas fechadas frente ao espelho, daí após dia quando tiro nariz e peruca, sinto a melancolia voltar e assombrar meus sorrisos.

Trago sorrisos a vidas de outras pessoas por não mais possuí-lo na minha. Que há tempos se foi, deixando pra trás um corpo frágil e um coração vazio. Aprendi a tirar graça da minha amargura; dos dias, as brincadeiras e das crianças a felicidade.

Vesti colorido para sabotar um preto e branco... Ou melhor, um quase cinza permanente e imutável. Pintei o rosto de colorido e feliz para maquiar um semblante marcante e melancólico que por trás dos palcos se desfaz em sentimento.

Aprendi com os dias a fazer os outros sorrirem, pois a mim não lembro como se faz. E por mais que mostre meus dentes, amasse as bochechas contra as orelhas e enrugue o canto dos olhos... Pode até parecer, mas não será um sorriso, não será felicidade. Desaprendi o sentimento.

E os outros sabem rir, embora alguns como eu, e outros bem felizes. E os faço rir. Nem que precise jogar-me de encontro ao chão e ficar pateticamente estatelado até ouvir uma sonora onda de gargalhadas. Faço isso por mim, por poder ver que ainda pode ter felicidade, mesmo que eu não saiba mais como ela é.

Como um palhaço, agora melancólico, termina meu dia sem pintura, sem nariz, sem cor, sem riso... sem vida.

4 comentários:

Érica Ferro disse...

Me sinto uma palhaça, por muitas vezes.

Adorei o texto.
Queria que me permitisse postar num blog que faço parte. Claro, com os direitos autorais e tudo certinho.
Posso?
O blog que pretendo postar é esse: http://pensamentosdevaneantes.blogspot.com/

Beijo.

Barbara disse...

Seu texto está de coragem.
Sua vida também.
Deixa... que a cor, se embute por trás do cinza.
E melancolia não é exatamente uma infelicidade, é como um estar no mundo sem estar e isso , às vezes, pode ser muito interessante!

Valéria lima disse...

Os dias de muita gente termina como um palhaço sem pintura, sem nariz, sem cor, sem riso, sem vida...

Carlos Manuel Ribeiro disse...

Sempre ouvir dizer que, a infelicidade era a triste verdade que se esconde por trás dos palhaços. Verdade ou não, não sei. Só sei que, muitos palhaços andam por aí sem no entanto o assumirem e, por vezes - muitas vezes talvez – também eu, ajo e reajo como um palhaço!

Parabéns pelo excelente texto amiga!

Abraço deste lado do atlântico,
CR/de