terça-feira, 30 de março de 2010

Mário de Sá-Carneiro

Sá-Carneiro. Poéta portugês, gordinho... Mais um atormentado pela morte. Mais um grande escritor, embora cedo se foi, por vontade própria porvando de vez o seu maior tormento. Aos 27 anos de idade vestiu-se com roupa de gala e se matou. Tudo isso só para por aqui um pouquinho da obra dele. Eu o li/ouvi pela primeira vez, faz bastante tempo e na voz de Adrana Calcanhotto, cantando um poema seu 'O outro'. Depois foi procurando que eu fiquei fã do rapaz. Foi dificil escolher apenas duas obras dele.

7
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio 

Que vai de mim para o Outro.







 Como eu não possuo  

Olho em volta de mim. Todos possuem ---
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minhalma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lodo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse --- ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim --- ó ânsia! --- eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases doirados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo. 





Não costumo fazer isso, mas como eu to sem tempo. Eu deixo aqui um pouco do que eu gosto. Pormeti não abandonar mais o blog. Pronto!

Um comentário:

Érica Ferro disse...

A poesia pesou no coração de Mário.
Mário se matou.