terça-feira, 20 de outubro de 2009

Relógio.

Eram uma e alguma coisa, já estava esperando.

Normal como sempre, olhava pelas janelas de todos os quartos. Ouvi meu nome, longe, bem longe. Saí correndo com palpitações. Cheguei à sala em segundos, ou menos, quase cuspindo os pulmões. Mas nem era nada, era só a TV falando mais do que devia.

Voltei para qualquer um dos postos de espera. Esperei, esperei, esperei e mais uma vez, esperei. Dormi, acordei, comecei a ficar com raiva. Já passavam das três e nada.

Voltei, sentei no meio do nada. Pensando em nada. Calada. Vi uma gota no chão... Até olhei para cima, numa tentativa de enganar-me. Podia ser uma goteira, me divertia. Mas a única coisa que pingava era eu que vazava a raiva pelos olhos.

Mais um pouco podia nadar na minha raiva, na minha mágoa.

Voltei a esperar, respirei e esperei. Esperando e tanto que nem lembrava mais o que esperar.

Voltei a sentar e olhei desta vez, no espelho. Ainda vazava raiva molhada pelos olhos. Não era raiva de segundos ou terceiros. Era minha só. Apenas, mais ninguém. Raiva de ter me rendido, de jamais ter aprendido a jogar, de sempre cair nas armadilhas, minhas próprias armadilhas.

Já passavam exatamente vinte e quatro, das cinco. Já chega, enxuguei lágrimas, raivas e mágoas. Corri para o banheiro, tomei um banho, um bem gelado.

Estava cansada, mas revigorada. Não ia mais esperar. Vou fazer-me este favor de sumir... Sumir um pouco só. Como semi-invisível. Não quero pessoas. Só quero a mim.

Chega de esperas. E de vazar raiva pelos olhos. Pois eu prefiro bastante cuspir felicidade pela boca.

Um comentário:

Érica Ferro disse...

Nossa...
Me identifiquei profundamente agora.

Quero cuspir felicidade pela boca, mas por enquanto meus olhos vazam melancolia e agonia.

Beijo.