Então o velho de cabeça branca encosta-se ao grande sofá de veludo bordô e dispara sem meias palavras:
- eu prefiro os vinhos, são tão fascinantes, tantos anos se passaram. São mais que bebidas, são partes de alguma história, testemunhas até. Vinhos são poéticos (...) ah os vinhos.
Meio abreviado de alguns sentidos o segundo velho, este de careca reluzente, solta algumas palavras afogadas na saliva bêbada:
- Pode casar-te com uma velha de rugas mais marcadas que a da tua mãe, risos.
- Cala a boca, bebe teu rum fedido. E não me fale mal de vinhos.
- Podia até calar, mas de uma cosia tenho certeza: não troco meus setenta e seis anos de vida por nenhum vinho pisado de chulé.
- Bebeste demasiadamente, Zé Luis!
- Não meu caro, estou bem. Mas tu estás avariado das idéias, pois não sou eu quem trocaria noites de amor com a mulher que amo por dias e dias em uma adega lotada. – retrucou o careca.
- Jamais disse tamanha balela!
- Disse e está nas reticências.
O velho de cabeça alva sentou-se mais fundo no sofá e com cara de paisagem ficou durante um bom tempo enquanto Zé Luis, o careca, entornava mais uma taça – daquelas de metal que ganhou em um cruzeiro temático – de rum fedido...
Nenhum comentário:
Postar um comentário